Por João Guilherme Vargas Netto*
Em plena batalha eleitoral pela conquista dos votos de milhões de trabalhadores pobres é de grande utilidade entender o que significa o bolsonarismo e quais são suas motivações e expectativas. Não é apenas um estado de espírito, é muito mais que isso e já se traduziu em uma montanha de votos.
O bolsonarismo é uma corrente política de opinião, um movimento e uma organização que aceita e expressa os interesses dos setores mais reacionários e dominantes da sociedade, conservador nos costumes, hipócrita no combate à corrupção, avesso à política tradicional e à democracia e que propõe a violência – física e simbólica – como método. Levou à vitória parlamentar o partido que o hegemoniza e garante a pole position de seu candidato na disputa presidencial.
No Brasil, desde 1938, é a primeira vez que uma organização de extrema direita adquire predominância política, coisa que nem mesmo os integralistas haviam conseguido.
Embora tenha obtido o voto de milhões o bolsonarismo é contra os trabalhadores e contra os sindicatos; mesmo suas eventuais propostas demagógicas revelam esta ojeriza quando propõe, por exemplo, dar uma décima terceira prestação para o Bolsa Família tirando os recursos para tanto do abono salarial.
O bolsonarismo explora a situação desorganizada dos trabalhadores, com informalidade, desemprego aberto, desalento, desesperança e apelo à segurança truculenta. Oferece a milhões uma almejada e exígua renda desde que os direitos sejam abandonados e a desorganização social seja aceita. Uma carteira de trabalho verde e amarela é o símbolo desta anarquia.
O movimento sindical tem repudiado o bolsonarismo e garantido a unidade de suas direções ao fazer isto.
Mas na dinâmica atual da busca de votos o protagonismo para conseguir falar com o fundo do quadro social deve ser de Haddad e Manuela. No período curto e frenético que antecede o segundo turno eles devem priorizar em suas ações esta tarefa, manifestando-se com propostas concretas, exequíveis e de efeito imediato na vida das pessoas, servindo de exemplo aos propagandistas e apoiadores.
Como não existe uma muralha da China entre os trabalhadores formais e sindicalizados e os trabalhadores informais e desempregados, a experiência das direções sindicais é valiosa para o cumprimento desta tarefa.
Na campanha deve ser dada mais voz aos dirigentes sindicais respeitados do que a políticos que têm sido repudiados pelos eleitores.
Para falar e ser ouvido por milhões é preciso falar o que eles querem ouvir, compreendendo suas dificuldades e reconhecendo suas perplexidades. O povo, o povo pobre é a solução, mas é também o problema a ser resolvido.
* João Guilherme Vargas Netto é assessor do Sintetel e de outras entidades sindicais.