Estudo realizado pela MCM Consultores, divulgado na última sexta-feira, mostra que a perda de postos formais de trabalho e a geração de empregos informais são movimentos comuns nos episódios de saída das recessões no Brasil nas últimas três décadas.
Apesar disso, a consultoria identificou viés maior de precarização do mercado de trabalho no atual ciclo de recuperação da atividade econômica.
Para observar os padrões históricos, a MCM cruzou estatísticas da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), ambas do IBGE. A ideia era comparar o desempenho do mercado de trabalho em sete períodos recessivos desde 1989 - incluindo os 12 meses seguintes ao fim do período de recessão.
A conclusão é que, com exceção das recessões de 2001 e de 2008-2009, que foram mais curtas, a saída das crises no país é acompanhada pelo aumento da proporção de empregos informais no contingente total de pessoas ocupadas. Além disso, em metade dos episódios recessivos, o emprego formal recuou nos 12 meses após o fim da crise.
Na recessão de 1989 a 1992, considerada semelhante em duração e intensidade à de 2014 a 2016, o total de pessoas ocupadas (empregadas, conta própria, remuneradas ou não) recuou 0,3% nos 12 meses seguintes ao fim da crise. Esse desempenho foi resultado de uma redução de 4,6% nos empregos formais, parcialmente compensada pela alta de 5,6% dos informais.
Naquele ciclo recessivo, o PIB caiu 7,7% em termos acumulados, segunda queda mais forte entre as sete recessões analisadas. A maior retração, de 8,6%, ocorreu na recessão mais recente, que durou de 2014 a 2016.
No atual ciclo, a população ocupada ficou estável nos 12 meses após o fim da recessão. Nesse caso, o número resultou de uma queda de 1,3% no total de trabalhadores formalizados - o que foi compensando pelo aumento de 1,5% no emprego informal, conforme os dados publicados pela consultoria.
Apesar de identificar que o movimento seria \"natural\" nas saídas de recessão, testes feitos pela MCM em modelo econométrico simples, que relacionou a variação interanual da população ocupada com o crescimento do PIB, sugeriu que o padrão de resposta da geração de empregos parece ter mudado nos últimos tempos, no sentido de perda de qualidade do trabalho.
"Testamos o coeficiente da regressão. O exercício mostra que a elasticidade do emprego formal ao PIB de fato se reduziu. Assim, há um viés recente de precarização do emprego gerado", concluiu Sarah Bretones, economista autora do documento.
O estudo lembrou que o mercado de trabalho tem surpreendido nos primeiros meses do ano, tanto pela lenta recuperação - com a taxa de desemprego praticamente estável, descontados os efeitos sazonais - quanto pela composição ainda precária da ocupação, bastante concentrada na informalidade.
"Nos primeiros meses deste ano, a recuperação parece ter perdido ímpeto: enquanto a taxa de desemprego com ajuste sazonal tem se mantido praticamente estável, o ritmo de expansão da população ocupada arrefeceu", avaliou a consultoria.