Representantes do padrão europeu de TV digital apoiaram a proposta feita pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil, de adiar para o ano que vem a escolha do padrão tecnológico que será adotado no Brasil. Assim como Gil, os defensores do padrão da Europa acham que o assunto deve ser desvinculado das pressões eleitorais. Numa tentativa de ainda sensibilizar o governo brasileiro, que já deu indícios de que adotará no País o padrão japonês, os europeus reforçaram ontem suas ofertas, criando um projeto de integração tecnológica digital para a América Latina, Caribe e Europa (Fórum DVB-LAC). O secretário executivo de relações com a América Latina da Comissão Européia, Paulo Lopes, disse que essa é uma decisão muito importante para ser tomada apenas observando-se os aspectos políticos. Segundo ele, a escolha do padrão de TV digital terá impacto nos próximos 20 anos e, por isso, precisa ser bem analisada. O diretor-executivo da Philips para a América Latina, Walter Duran, disse que o ideal é que a definição do padrão fique para depois das eleições, já que há pressões "de alguns interessados", para que a escolha seja tomada em ano eleitoral. Já as emissoras de TV, que defendem o modelo japonês, querem que a escolha seja anunciada o mais rapidamente possível. Tanto Duran quanto Lopes acreditam que o governo brasileiro ainda não tomou a sua decisão, mesmo com o convite feito pelo Palácio do Planalto ao governo de Tóquio para que uma delegação japonesa venha ao Brasil para assinar o acordo de implantação da TV digital no País. Mas, segundo fontes ligadas às indústrias, esse encontro deverá ficar mais para o fim do mês, para adequar a viagem à agenda dos empresários e dos representantes do governo japonês. Nesse acordo, os japoneses se comprometeriam com a continuidade dos estudos de viabilidade para a instalação de uma fábrica de semicondutores e com a incorporação de tecnologias desenvolvidas no Brasil. Esses dois pontos, considerados fundamentais pelo governo brasileiro, não representam, segundo técnicos envolvidos nas discussões, grandes problemas para os japoneses. Para eles, o essencial é a adoção do sistema japonês de transmissão dos sinais, que é considerado o coração do padrão de TV digital. O diretor da Philips, por sua vez, disse que o governo brasileiro ainda está analisando um memorando apresentado pelos europeus no mês passado ao ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. "Se estão estudando, é porque ainda não decidiram. Nós acreditamos nas pessoas que são nossas interlocutoras", disse Duran. Dilma e Hélio Costa não quiseram comentar a sugestão de adiamento. A assessoria da Casa Civil disse que a ministra só falará sobre o assunto quando a decisão estiver tomada. O Fórum DVB-LAC dará ênfase ao desenvolvimento de novas tecnologias digitais e terá o apoio de fundos de pesquisa da União Européia, que estariam dispostos a investir 9 bilhões de euros até 2013 em tecnologia da informação e comunicação em diversos países. Esses recursos se somariam aos R$ 100 milhões por ano já propostos ao Brasil, caso a tecnologia da Europa seja escolhida. Os europeus querem evitar uma decisão isolada por parte do Brasil, já que a Argentina e o Chile sinalizaram que não vão adotar o sistema japonês. Fonte: Matéria extraída da Folha Online